Hoje em dia, quase toda a gente tem relógio.

E há-os para os gostos mais diversos.

Dantes, não era assim. Só a torre da igreja dava as horas. Pela tardinha, quando tocava o sino na torre sineira, os camponeses, debruçados sobre o trabalho, ouviam-no ao longe e exclamavam, limpando o suor da testa:

– Por hoje já chega! Só mais estas sacholadas e recolhemos a casa, que está na hora da janta!

Mas isso era dantes…..

Agora, vamos ouvir o nosso amigo Joca a perguntar às pessoas com que se cruzava, na rua:

– Tem horas?

A pessoa que ia a passar respondia que sim.

– E minutos, também tem? – perguntava o Joca.

A pessoa ficava admirada com a pergunta, mas respondia que sim.

– Então fazia o favor de dar-me as horas – pedia o Joca. – E os minutos também, se pudesse ser….

A pessoa dava tudo: as horas, os minutos e até os segundos. Dava e voltava a guardar.

O Joca agradecia, mas, passado um bocadinho, já estava a perguntar a outro que passava:

– Tem horas?

Quando a pessoa respondia que não tinha horas, o que era raro, o Joca ficava muito satisfeito. Até os olhos lhe brilhavam. Com toda a solenidade, tirava a mão esquerda do bolso, repuxava a manga da camisola para trás e ditava ele as horas, sem falhar um único pormenor.

Depois explicava:

– Foi o meu padrinho que mo deu. Estreei-o ontem, que fiz anos.

 

FIM!