Segurança Rodoviária Infantil: Reflexões do passado ao presente
Que imagem curiosa, esta de uma mulher a conduzir o seu automóvel com um sorriso confiante. Uma mulher ao volante, um cinto de segurança… para a época, era tudo tão moderno! Mas, como sabemos, o que ontem parecia uma modernidade pode hoje estar totalmente ultrapassado. E isso é fácil de compreender quando olhamos para as coisas sob a perspetiva do tempo e do espaço. A vida numa cidade costeira, por exemplo, é bem diferente da de uma vila no interior do país – e as diferenças tornam-se ainda maiores quando os “abismos espaciais” se alargam.
Quando penso nesta imagem, não consigo deixar de refletir sobre a história da segurança rodoviária: como começou, como evoluiu e onde estamos agora. O cinto de segurança, presente nesta fotografia, é um bom exemplo para ilustrar o caminho percorrido e os desafios que ainda enfrentamos. Hoje, temos o conhecimento científico que nos demonstra de forma inequívoca que viajar contra o sentido da marcha é a forma mais segura, especialmente para bebés e crianças pequenas. Contudo, mudar mentalidades continua a ser um desafio.
Nos anos 70, a realidade era bem diferente. A consciência sobre a segurança rodoviária infantil era escassa, e muitas crianças viajavam soltas no banco traseiro, sem qualquer cinto de segurança. Os carros, por sua vez, também não tinham os padrões de segurança que conhecemos hoje. Era um reflexo do tempo e do espaço em que se vivia. Felizmente, desde então, a conscientização sobre segurança rodoviária evoluiu muito.
Ainda assim, deparamo-nos com questões importantes. Por exemplo, as normas atuais permitem que os bebés sejam virados para a frente a partir dos 9 kg (norma R44) ou 15 meses (norma R129, a mais recente, que será obrigatória a partir de setembro). Mas o conhecimento científico deixa claro que esta prática não é segura. Antes dos 4 anos, as crianças não têm maturidade osteoarticular para resistir às forças de um acidente, e viajar contra a marcha reduz significativamente o risco de lesões graves ou fatais.
Embora a legislação tenha avançado, ainda permite a venda de cadeiras que não oferecem a proteção ideal. Estas cadeiras, embora legais, podem causar lesões graves ou irreversíveis em caso de acidente. Isto cria uma contradição preocupante: ao seguirmos apenas o que é legal, podemos não estar a garantir a segurança das crianças.
Além disso, muitos sistemas de retenção infantil são utilizados de forma incorreta. Instalamos cadeiras mal, posicionamos as crianças de forma inadequada e, por vezes, confiamos mais nas opiniões de amigos ou listas online do que na assessoria profissional. Assim, mesmo com os avanços, continuamos num limbo, onde o transporte infantil nem sempre é tratado com o rigor que merece.
Olhando para estas realidades, percebemos que a evolução na segurança rodoviária é um processo contínuo. Se antes o simples uso de um cinto de segurança era visto como suficiente, hoje sabemos que a ciência nos dá ferramentas para fazer mais e melhor. Não é sobre seguir regras ou modas – é sobre proteger ao máximo aqueles que dependem de nós.
Que possamos olhar para o conhecimento acumulado desde os anos 70 e aplicá-lo no presente. Cada pequena decisão, desde escolher uma cadeira segura até garantir que está bem instalada, pode fazer toda a diferença.