Segurança Rodoviária Infantil: O Desafio Entre o Legal e o Seguro
Ao refletir sobre tudo quanto tenho estudado e aprendido sobre segurança rodoviária infantil, uma questão surge no imediato: a grande disparidade entre o que é legalmente exigido para o transporte de crianças e o que, de fato, é seguro. É fundamental entender esta dicotomia e o tema precisa ser discutido com clareza, pois as escolhas que fazemos para proteger os nossos filhos no trânsito fazem toda a diferença em caso de sinistro.
Este texto visa trazer uma reflexão profunda sobre o tema, convidando o leitor a acompanhar de perto as nuances dessa questão, que vai muito além da simples conformidade legal. A intenção é questionar o que é realmente seguro para que bebês e crianças viajem com segurança e por que devemos repensar práticas e legislações que, muitas vezes, estão desatualizadas diante do conhecimento científico atual.
A História da Segurança Rodoviária Infantil
Para entender a segurança rodoviária infantil no cenário atual, é importante olhar para o passado e observar como evoluíram os sistemas de retenção infantil (SRI) ao longo dos anos. O desenvolvimento desses sistemas no sul da Europa esteve fortemente ligado à legislação vigente, que, por muito tempo, se focou em “reter” a criança, mais do que em protegê-la efetivamente.
No passado, os sistemas de segurança para crianças eram pensados para evitar que as crianças perturbassem o condutor, sem realmente considerar a sua segurança. Naquele tempo, o papel da criança na sociedade era substancialmente diferente. A criança ainda não era vista como um ser com necessidades específicas, mas apenas como mais uma parte do ambiente familiar, sem se levar em conta a sua vulnerabilidade e necessidade de proteção.
Os primeiros modelos de SRI variavam bastante. Entre os mais inusitados, havia desde berços que prometiam conforto durante a viagem até versões mais arriscadas, como bancos com volantes para imitar o condutor, passando por verdadeiras espreguiçadeiras presas ao tejadilho dos automóveis. Alguns modelos nem sequer traziam arnês para a retenção, e a adição desse elemento representava um aumento médio de 30% no custo do produto!
Já nos países nórdicos, a abordagem foi diferente. A Volvo, pioneira na criação do cinto de segurança de três pontos — um dispositivo que se estima já ter salvo mais de 1 milhão de vidas —, em 1967, em parceria com a Klippan (fabricante dos cintos de segurança), desenvolveu a primeira cadeira auto com o objetivo de salvar vidas de crianças.
Até 2008, na Suécia, as crianças menores de 4 anos só podiam ser transportadas contra a marcha. Foi somente com a adesão à União Europeia e a livre circulação de pessoas e bens que essa prática foi alterada. No entanto, os avanços continuam a ser necessários, principalmente em países onde a legislação ainda não acompanha as recomendações de segurança mais modernas.
A Diferença Entre o Legal e o Seguro
Hoje, depois de quase duas décadas desde as mudanças na legislação europeia, é hora de darmos dois passos em frente! Precisamos focar no que realmente importa: a proteção da vida de bebés e crianças. A responsabilidade pela segurança dos mais pequenos é nossa, uma vez que eles não são autônomos nem plenamente conscientes dos riscos ao seu redor. É nosso dever decidir o melhor para eles.
Mas o que devemos escolher? O legal? Ou o seguro?
Atualmente, a legislação permite que as crianças viajem a favor da marcha a partir dos 9 kg ou desde os 15 meses, dependendo da normativa que tenha homologado a cadeira que estejam a utilizar. Porém, a prática SEGURA é viajar contra a marcha, uma medida que protege a criança de forma significativa em caso de sinistro. As várias ciências que compõe a biomecânica, ciência responsável por encontrar a estrutura perfeita para o fim desejado, concordam que a segurança é garantida, de maneira eficaz, quando as crianças viajam contra a marcha até pelo menos os 4 anos de idade.
No entanto, existe um descompasso enorme entre o que é permitido legalmente e o que sabemos ser a SEGURANÇA. E essa diferença não pode ser ignorada, já que os direitos da criança e o dever dos pais de cuidar e proteger os filhos estão expressos tanto na legislação nacional quanto na Declaração Universal dos Direitos da Criança.
O Papel da Informação e da Conscientização
rtigoO melhor “seguro de vida” para uma criança são pais bem informados e conscientes dos riscos que envolvem a legislação atual e dos benefícios de seguir as recomendações de segurança mais atualizadas. Por isso, é fundamental que cada vez mais pais e profissionais de saúde compreendam a importância de priorizar a segurança, mesmo quando a legislação não o exige.
Como bem diz a minha amiga Magda Gomes Dias: “Segurança não é negociável!” Precisamos lutar para que a segurança dos mais vulneráveis seja sempre a prioridade em todas as decisões.
É hora de questionar as leis que ainda não estão alinhadas com as melhores práticas e de pressionar por mudanças que garantam a segurança dos mais pequenos. A proteção de nossos filhos no trânsito não pode ser uma questão de escolha entre o legal e o seguro. A segurança deve ser sempre a prioridade.