QUATRO TESOUROS – Histórias D’ Embalar #2
É domingo, tal como tantos outros dias, vamos ler juntas… hoje é a Leonor que lê para mim… e é uma delícia observar o que a leitura diária que eu ou o pai lhe fazíamos ao deitar, produziu nela.
Esta história foi lida inúmeras vezes, com musicalidade, com ternura. E, por ser o dia do AMOR, foi por ela escolhida para partilhar e transmitir a mensagem que há cordões inquebráveis, há amores imensuráveis e… bem hajam!
Joana Freitas
QUATRO TESOUROS – Histórinhas D’ Embalar #2
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Nunca trocaria as filhas por nada, nem guloseimas, nem maravilhas.
As filhas da senhora eram as suas maiores alegrias, as suas companhias.
Com elas passava os dias, e os dias eram só de amor que aumentava.
A Senhora Sorria.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
E as filhas brincavam e cantavam de contentes.
Passavam os dias a fazer coisas diferentes.
Inventavam peripécias, vestiam disfarces, sonhavam com árvores quando espalhavam sementes.
Iam quintal fora, tão vistosas, com as mãos estendidas sobre a terra, e aterra preparava-se para ser cultivada.
A terra parecia que nem pensava em mais nada.
Achavam as filhas bom seria que a terra pensasse também.
E depois riam.se tão divertidas com aquele pensamento.
E a Senhora sorria.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
A senhora punha a mesa, chamava por elas,
E o que fosse mais doce era sempre uma surpresa.
As filhas comiam e conversavam.
Contavam histórias de verdade e fantasia.
Inventavam muito e era assim que aprendiam.
Achavam que inventar era como estudar com mais leveza.
E a Senhora sorria.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Dormiam numa cama grande, as filhas, alinhadas por ordem de chegada:
Primeiro, a mais velha, depois a do meio e, por último, a mais nova.
A senhora dizia-lhes “boa noite”
E beijava-as. As filhas sossegavam.
Achavam que, deitadas, adormeciam.
Como andar nas nuvens. Voam.
O sonho era feito de algodão azul muito claro.
Quanto mais as filhas fechavam os olhos, mais se acendia o sonho, e mais alto nas nuvens andavam.
Aparecia o sol.
As noites passavam.
E a Senhora sorria.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Por mais que valessem, nunca a senhora as deixaria, não as daria, não se esqueceria nunca das filhas.
A senhora só sabia gostar delas, tomar conta delas, desejar que fossem felizes e fazer tudo para que fossem felizes.
As filhas aprendiam que a mãe era um muro de encontro ao mundo.
Achavam que a mãe, porque as protegia, era como um muro grande, alto, muito robusto, que as defendia das dificuldades de crescer.
Mas, o mais incrível, era que a mãe transparecia.
E através da mãe as filhas viam tudo, aprendiam tudo.
E a Senhora sorria.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Por maior o esforço que fizesse, a senhora nada podia contra o azar que acontece.
E as filhas, por isto ou por aquilo, magoavam-se ou adoeciam.
Era da distração nas brincadeiras ou era da gula, era do frio ou do calor.
De vez em quando, as filhas lá tinham de ir ao médico. Entravam em fila para serem vistas e esperavam.
O médico disse-lhes:
– Boas Tardes.
E elas começaram a queixar-se assim:
– Ai, que me dói a perna.
– Ai, que me dói a barriga.
-Ai, que me dói a cabeça.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Um dia foram para ao hospital.
Estavam as três acamadas.
A mais velha dizia:
-Ai, que me dói a perna.
Distraí-me a andar
De bicicleta e caí.
A do meio dizia:
-Ai, que me dói a barriga.
Comi demasiadas uvas doces.
A mais nova dizia:
– Ai, que me dói a cabeça.
Entalei-me numa porta
A senhora, rodopiando entre as filhas,
Fazia festas a uma e outra e mais outra.
A senhora não parava.
Enquanto elas não estivessem bem e contentes, a senhora não se cansava.
A senhora esperava.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Estavam as filhas doentes e o importante era esperar.
Fazer o que mandava o doutor e esperar.
A senhora penteava uma e outra e mais outra.
a senhora beijava uma e outra e mais outra.
A senhora sorria para uma e outra e mais outra.
As filhas acreditavam que no coração da mãe havia uma corda atada ao coração de todas elas, porque a senhora era incapaz de parar de amar.
Ela era incapaz de parar.
E a senhora esperava.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Estavam doentes, as filhas, e precisavam de ter paciência e muito cuidado, e a senhora era assim que lhes dizia:
– Minhas filhas, meus tesouros,
A melhor comportada há-de
Curar-se mais depressa.
As três melhoravam e pioram e voltavam a melhorar, e o médico espiava os olhos e a febre e fazia contas de cabeça para decidir o que fazer.
As três distraiam-se, inventavam outra vez histórias e, cheias de verdade e fantasia, lá animavam.
A senhora participava.
Ajeitava o cobertor a uma e outra e mais outra, e só depois se sentava.
A senhora esperava.
Uma senhora tinha três filhas.
Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
O médico disse:
– À mais velha vamos pôr gesso.
E a mais velha dizia:
– Ai, que me dói a perna.
O médico disse:
– À do meio vamos lavar o estômago com um tubo.
E a do meio respondeu:
– Ai, que me dói a barriga.
O médico disse:
– À mais nova vamos fazer uma operação.
A senhora estremeceu.
O médico sorriu.
Não tinha que se preocupar.
Ia correr tudo bem.
A mais nova respondeu:
– Ai, que me dói a cabeça.
E a senhora esperava.
Uma senhora estava tão preocupada
Que nem sabia quantas filhas tinha.
Quantos tesouros, quantos sacos de ouro valiam.
Enquanto não viesse a mais nova da sala de operação, a senhora não sossegava o coração.
E as filhas lembravam-se que do coração da mãe havia uma corda atada até ao coração da filha.
O amor das mães, e de todos quantos gostam de alguém, é uma magia sem parar.
Uma magia que sabe curar.
Ficaram, a senhora e quantas filhas tinha, intensamente a amar.
E a esperar.
E o médico logo veio.
Estava tudo bem.
Disse que estava tudo bem.
E a senhora sorriu.
Uma senhora tinha três filhas. Três tesouros.
Valiam mais de mil sacos de ouro.
Tão felizes ficaram todas por estarem
bem de saúde que disseram:
– Eina, que já nem me dói a perna.
– Eina, que já nem me dói a barriga.
– Eina, que já nem me dói a cabeça.
Tinham sido corajosas.
Só precisaram de esperar. Esperariam sempre
Por uma e outra e outra e mais outra.
E a senhora disse:
– Eina, que estou tão feliz.
E as filhas riram-se com ela. Juntas, as filhas e a mãe eram na verdade quatro tesouros. Uma e outra
E outra e mais outra. Quatro tesouros. De amor.
Valiam mais do que toso os sacos de ouro juntos.
Autor:
Valter Hugo Mãe
DICAS PARA PAIS
Há várias formas de criar uma sensação de segurança no seu filho:
– Oferecer um boneco mágico, uma lanterna mágica (para quem tem medo do escuro) e até “pós mágicos” para deitar antes de dormir (um saco com purpurinas faz milagres).
– Fazer pequenos teatros durante o dia em que os personagens passem por situações parecidas com as que o seu filho verbaliza e se saiam bem.
– Pedir ajuda ao seu filho para pequenas tarefas e agradecer-lhe, dizendo que é forte e crescido.