Amamentação em livre demanda: sim ou não?
A amamentação em livre demanda é, atualmente, a forma quase que unanimemente preconizada de alimentarmos os bebés.
Eu, Joana Freitas, conselheira em amamentação há 14 anos, considero ser fundamental atentar, antes de mais, num conjunto de dados e no enquadramento desta recomendação bem intencionada, sob pena de podermos colocar em causa o sucesso da amamentação, quando é exatamente o oposto que se pretende com a orientação de que os bebés devem ser alimentados em livre demanda!
Vamos então clarificar algumas coisas:
1º – Para podermos falar em livre demanda, é fundamental ter presente o conceito de “demanda”. Consultando a infopedia.pt, encontramos “esforço para encontrar algo; busca; procura; solicitação” como definições que caracterizam demanda.
2º – Do ponto anterior, e adicionando alguma reflexão: Facilmente podemos concluir que “livre demanda” é uma forma possível de amamentar que se caracteriza por permitir o acesso à mama – nutrição, alimento, vínculo também, estímulo, etc – sempre que nos apercebemos dessa solicitação por parte do bebé.
3º – Esperar que exista a possibilidade de “livre demanda” num recém-nascido até cerca de 1 mês pode revelar-se impossível. O recém-nascido está a sair de um meio onde a sua forma de nutrição era absolutamente distinta, onde os nutrientes lhe chegavam, sem qualquer esforço ou solicitação da sua parte. Ou seja, é perfeitamente plausível, e eu diria expectável até, que nos 18 dias/semanas de vida do bebé – em profundo processo de adaptação à vida extra – esteja “assoberbados” com tantas “novidades” e, por isso, como que “desatento” das suas necessidades de nutrição.
Logo, a “livre demanda” não pode e nem deve ser assumida como um dado adquirido, é importante salientar que esta não é igual em todas as fases de desenvolvimento do bebé.
É pois, particularmente importante nos primeiros 15 dias de vida do bebé – normalmente coincidentes com a primeira ida ao pediatra, e que irá permitir, consequentemente, afinar e avaliar a evolução do bebé. É necessário ter redobrada atenção, garantido um mínimo de 8 refeições diárias.
Não querendo desviar do foco do bebé, estes primeiros dias são igualmente basilares para uma boa estimulação à mama, de onde decorrerá uma boa produção de leite.
Acordar o bebé pode revelar-se necessário e isso não invalidará que passado alguns dias, a dupla mãe/bebé não tenha estabelecido uma cumplicidade que permita à mãe compreender de forma inequívoca a tal “solicitação” ou “demanda” do seu bebé.
Outro aspeto a considerar, é para quem é a “livre” demanda, e o que ela requer da mãe – Também ela ser individual, com necessidades e emoções. A livre demanda exige tempo, dedicação e AMOR, promove o vínculo e auxilia na regulação da produção de leite na mãe – o que não é diferente numa mãe que amamentou o seu bebé num regime de horários mais estabelecidos – e isto é importante ser referido. Para que a produção de leite decorra com serenidade, a mãe deve estar tranquila e serena.
Não me canso de referir que não há uma só forma de sermos excelentes pais/mães.
Há escolhas, há formas de estar, há vidas.
Numa coisa existe unanimidade: o leite materno é o melhor alimento para o bebé.
Conheçam as várias possibilidades, pensem sobre o vosso projeto de parentalidade, mantenham uma boa capacidade de adaptação (afinal, cada bebé é único), confiem nos processos, façam opções informadas e já sabem – podem sempre contar com o D’Barriga.