A Família dos Is
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A FAMÍLIA DOS IS – Histórinhas D’ Embalar #24
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– Ilda é o nome da minha tia. Ildefonso é o nome do meu tio, irmão do meu pai, que se chama Inácio. Tenho um avô Isidro e uma avó Isaura. A minha mãe chama-se Irene e os pais da minha mãe, Ilídio e Isolina. Mas há mais: há a minha prima Inês, a tia Idalina, casada com o Doutor Isidoro, as minhas primas Isilda e Isabel e a minha irmã Ivone, que ainda é muito pequenina para sabe o nome.
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Quem fala assim fala dos seus parentes, todos da ilustre família dos Is grandes, é o I ainda pequeno.
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– Chamo-me Ivo – diz ele. – Era para ser Hilário, calculem! Mas o meu avô Isidro, quando isto ouviu, segredou-o ao meu tio Isidoro, e o meu tio Isidoro segredou-o à minha prima Isilda, e a minha prima Isilda segredou-o ao meu tio Ildefonso, e o meu tio Ildefonso deu um encontrão ao meu pai, que se preparava para escrever “Hilário” no livro do registo, e disse-lhe em voz alta: “Hilário é com H, homem!” O meu pai ficou muito corado e então escreveu por cima: “Ivo”. E Ivo fiquei.
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Sou de Ílhavo, mas também podia ter nascido numa ilha qualquer ou em Itália, quem sabe…..Ainda lá gostava de ir, um dia, de iate, claro.
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Hão-de estranhar que tenha nascido em Portugal, que não começa por I, mas não se esqueçam de que está situado na Península Ibérica, pois então!
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Nunca me perco. E não julguem que sou ignorante. Antes pelo contrário, tenho muitas ideias e algumas fixas. Por exemplo: gostava, quando for grande, de ser ilusionista. Ivo, o ilusionista imbatível, inimitável, incrível! Isto num grande cartaz iluminado. Claro que é tudo imaginação, faculdade de que não sou desprovido, podem crer.
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Devem talvez achar a minha conversa uma tontice da infância, uma ingenuidade, uma manifestação de inocência. Acham que falo caro, que falo importante? Talvez.
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Conheço como os meus dedos todas as palavras do dicionário começadas por I. De indicador espetado, aprendi a ler todas elas. Perguntem-me o que é “intempérie”. Eu sei. O que é “intelectual”. Eu sei. O que é “invólucro”. Eu sei. Sou o sábio dos Is. Tanto assim que, quando em pequeno me perguntavam quais era as vogais, eu recitava assim: I,A, E, O, U. porque é que o A há-de ser o primeiro?
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“Inteligente” e “instruído” começam por I, tal como eu.
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E, por favor, não me chamem idiota!
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António Torrado